Thursday, May 22, 2008

Islão em África
A religião islâmica assume grande importância não só no norte de África, mas em todo o continente africano. O encontro do Islão com o animismo africano resultou numa solução religiosa, que foi facilmente assimilada por parte da população, transformando-se numa forma alternativa de organização social.
Apesar de mais de 20% do total mundial de muçulmanos viverem na África subsariana, os conflitos vividos na região não se devem a causas religiosas, mas redicam na luta pelo controle de riquezas, na fraqueza dos Estados e na falta de meios financeiros para que estes desempenhem funções sociais.
A ideia de que mais de um terço da população africana partilha a fé islâmica não nos passa imediatamente pela cabeça quando se pensa em África.
Se nos habituámos a considerar os países do Norte de África como parte do mundo árabe, não reconhecemos tão facilmente a influência islâmica ao sul do Sara.
No entanto, o papel do Islão como força política, social e religiosa na África sub-sariana é também muito importante. Países como o Senegal, o Mali, a Somália têm maiorias muçulmanas. Metade dos 113 milhões de habitantes da Nigéria são muçulmanos. Países como o Gana, o Uganda, o Quénia e a Tanzânia têm grandes comunidades muçulmanas.
O Islão é uma religião fortemente implantada há séculos no continente e como tal tem desempenhado um papel preponderante na evolução de muitas nações africanas. Continua hoje a ser uma religião em expansão, apresentando-se como um sistema alternativo de organização social, política e económica para as comunidades islamizadas.
Como conseguiu o Islão alcançar tão importante posição nesta vasta área e que características adquiriu o Islão em África? Quais os países onde este processo tem sido mais problemático na actualidade?
A islamização de África tem sido um longo e complexo processo.
Em 640 d.c. registou-se a conquista do Norte de África, desde o Egipto até Marrocos. Ao contrário do resto do continente, no Norte de África desenrolaram-se dois processos distintos: islamização e arabização. Por islamização pretende-se referir o processo pelo qual os povos do Norte de África se converteram à religião islâmica e se tornaram muçulmanos. Por arabização refere-se o processo de aculturação através do qual estes povos absorveram numerosos aspectos da cultura árabe, nomeadamente a língua(1).
Ao mesmo tempo que decorria a conquista do Norte de África, o Islão atingiu a África Oriental, não através da conquista armada mas através do comércio no mar Vermelho e no oceano Índico.
Mais tarde regista-se uma expansão por vagas sucessivas do norte para o sul através do Sara, por via das migrações e do comércio de caravanas.
Esta expansão para sul foi variada na sua forma, tendo em conta a natureza da população muçulmana migrante e a sua atitude perante a religião. Cada grupo migrante tinha a sua forma de interagir com o povo acolhedor, o que teve efeitos nos métodos de islamização.
A adaptabilidade do Islão a diferentes ambientes e a sua interacção com a religião animista presente no continente africano vai permitir, por um lado, a sua fácil aceitação pelos africanos e, por outro, provocar mutações na religião islâmica de região para região. Como exemplo podem referir-se as celebrações islâmicas em partes da África Oriental, que incorporaram a dança e o tambor no seu seio. Estas duas características levam a que não se possa falar do Islão em África de uma forma global.

O fenómeno de expansão islâmica assume várias formas na actualidade: pode ser radical ou moderado, político ou apolítico, democrático ou autoritário, envolvendo desde esforços ao nível da educação nas escolas corânicas, a tentativas de chegada ao poder. Ao sul do continente africano, a grande mutação que se regista é a maior influência muçulmana dos países da península arábica. Estes países estão presentes em domínios tão variados como a formação de intelectuais, a construção de mesquitas e o financiamento de obras de caridade e fundações diversas.
O Islão no quadro da reorganização do mundo pós-Guerra Fria
Desde os atentados ocorridos a 11 de Setembro que a palavra Islão adquiriu outro significado para o mundo. Numerosos artigos nos EUA e na Europa, que até então ignoraram África, falam agora do facto de mais de 20% dos muçulmanos viverem na África sub-sariana, e de existirem mais muçulmanos em África do que no Médio Oriente.
Os conflitos religiosos no continente africano assumiram uma outra dimensão.
No entanto, é necessário ter em conta que o Islão em si não é a principal fonte destes conflitos. O problema em África é que os conflitos religiosos estão a mascarar problemas mais prementes como o controlo de riquezas, a fraqueza dos Estados e a falta de meios financeiros para desempenhar o seu papel na educação, saúde, etc., criando tensões que estão a ser definidas em termos islâmicos. Em países como a Nigéria, a Somália ou o Sudão onde os conflitos religiosos se encontram acesos, o Estado falhou no seu papel, e as instituições que conseguem manter algum funcionalismo são precisamente as religiosas (islâmicas e cristãs). São elas que mantêm a educação, apoios humanitários, assumindo mesmo, em alguns Estados, outras funções, como a construção de estradas.
É necessário ter em conta que o Islão em África é muitas vezes usado pelos líderes africanos como um instrumento político, uma forma de desviar as atenções dos conflitos locais, que nada tem a ver com o choque de civilizações, mas sim com a alocação de recursos e ainda que em muitas sociedades africanas o Islão convive pacificamente com as outras comunidades. É importante não confundir Islão com fundamentalismo islâmico.
Os políticos jogam a carta religiosa e étnica para conseguir apoios, dividir e conquistar.
O actual receio terrorista que assola o Ocidente, conjugado com a complexidade e diversidade de problemas que enfrenta o continente africano, representa um risco, pois pode ser usado pelos líderes africanos, não só para adiar reformas conducentes à liberalização política (tal como no passado, após o resultado eleitoral na Argélia), mas também para esmagar a oposição interna e externa, com a cumplicidade do Ocidente.
Durante o mandato de Clinton, o fundamentalismo islâmico foi uma das preocupações americanas no continente. A nova abordagem americana assentou numa nova geração de líderes independentes como Isaias Afwerki, da Eritreia, Meles Zenawi, da Etiópia, Yoweri Museveni, do Uganda e Paul Kagame, do Ruanda. Através destes países, os EUA procuraram deter a expansão do fundamentalismo islâmico, sobretudo do Sudão. Contudo, o renascimento africano proclamado por Clinton falhou. Não foi possível, num espaço de tempo limitado, resolver os problemas estruturais que África encerra.
Enquanto o continente africano continuar a ter Estados disfuncionais, desintegração social, rápido crescimento populacional, taxas de HIV elevadas, guerras, deslocados, fome, as tensões continuarão a existir. O fundamentalis-mo islâmico será apenas mais uma dessas tensões.
Informação complementar
Somália
A fraqueza do Estado central tem consequências também na Somália. Para 90% das crianças em idade escolar, os únicos estabelecimentos de ensino existentes são as escolas corânicas. Após uma longa e sangrenta guerra civil, as únicas instituições que funcionam são os tribunais, escolas e mesquitas islâmicas. São estas instituições que conseguem trazer alguma ordem a zonas anteriormente anárquicas. A lei da sharia está em vigor desde 1993.
Sudão
No Sudão, uma guerra civil sangrenta dura já há 18 anos entre o regime islâmico militar no Norte, e a oposição animista e cristã ao Sul. A descoberta de petróleo (ver mapa “Produção de petróleo no Sudão”) no Sul do Sudão em 1983 contribuiu para o reacender da guerra. Desde então, as diferenças religiosas e étnicas têm sido usadas como arma para controlar as áreas de produção. Cartum procura impor a Sharia a todo o país, ao contrário dos outros Estados africanos, onde apenas é imposta às comunidades muçulmanas.
Nigéria
O actual problema de tensões religiosas na Nigéria – com os esforços dos Estados do Norte para implementar a sharia(3) – tem fortes raízes históricas, étnicas, culturais, políticas e económicas. Em particular, é claro que o facto de a Nigéria ter falhado no uso dos vastos recursos petrolíferos (ver mapa intitulado “Principais áreas de conflito e número de IDP na Nigéria”), concentrados no Sul, para proporcionar melhores condições de vida e um sistema socioeconómico relativamente equitativo contribuiu para o exacerbar das divisões religiosas. Enquanto os problemas económicos e sociais continuarem na Nigéria, o risco de manipulação religiosa para fins políticos e o apelo à religião para encontrar respostas a problemas do mundo material continuarão.
__________
1. Semelhante processo decorre actualmente no Sudão.
2. Na Tanzânia, o presidente Mkapa tem sido acusado de usar como pretexto o fundamentalismo Islâmico do partido CUF para suprimir a oposição no país. No Uganda, os líderes da oposição estão receosos de que a lei recentemente aprovada de pena de morte para quem esteja envolvido ou apoie o terrorismo seja usada para neutralizar os opositores e críticos do regime. A Etiópia vê na actual antipatia por grupos terroristas no Corno de África uma forma de atrair o apoio dos EUA para exercer uma maior pressão sobre os seus inimigos baseados na Somália, especialmente a Al Itihaad.
3. Desde Janeiro de 2000, 12 Estados do Norte introduziram a Sharia.
* Carla Folgôa
Licenciada em Relações Internacionais pela UAL. Assessora da Direcção do Conselho Português para os Refugiados.
A religião islâmica assume grande importância não só no norte de África, mas em todo o continente africano. O encontro do Islão com o animismo africano resultou numa solução religiosa, que foi facilmente assimilada por parte da população, transformando-se numa forma alternativa de organização social.
Apesar de mais de 20% do total mundial de muçulmanos viverem na África subsariana, os conflitos vividos na região não se devem a causas religiosas, mas redicam na luta pelo controle de riquezas, na fraqueza dos Estados e na falta de meios financeiros para que estes desempenhem funções sociais.
A ideia de que mais de um terço da população africana partilha a fé islâmica não nos passa imediatamente pela cabeça quando se pensa em África.
Se nos habituámos a considerar os países do Norte de África como parte do mundo árabe, não reconhecemos tão facilmente a influência islâmica ao sul do Sara.
No entanto, o papel do Islão como força política, social e religiosa na África sub-sariana é também muito importante. Países como o Senegal, o Mali, a Somália têm maiorias muçulmanas. Metade dos 113 milhões de habitantes da Nigéria são muçulmanos. Países como o Gana, o Uganda, o Quénia e a Tanzânia têm grandes comunidades muçulmanas.
O Islão é uma religião fortemente implantada há séculos no continente e como tal tem desempenhado um papel preponderante na evolução de muitas nações africanas. Continua hoje a ser uma religião em expansão, apresentando-se como um sistema alternativo de organização social, política e económica para as comunidades islamizadas.
Como conseguiu o Islão alcançar tão importante posição nesta vasta área e que características adquiriu o Islão em África? Quais os países onde este processo tem sido mais problemático na actualidade?
A islamização de África tem sido um longo e complexo processo.
Em 640 d.c. registou-se a conquista do Norte de África, desde o Egipto até Marrocos. Ao contrário do resto do continente, no Norte de África desenrolaram-se dois processos distintos: islamização e arabização. Por islamização pretende-se referir o processo pelo qual os povos do Norte de África se converteram à religião islâmica e se tornaram muçulmanos. Por arabização refere-se o processo de aculturação através do qual estes povos absorveram numerosos aspectos da cultura árabe, nomeadamente a língua(1).
Ao mesmo tempo que decorria a conquista do Norte de África, o Islão atingiu a África Oriental, não através da conquista armada mas através do comércio no mar Vermelho e no oceano Índico.
Mais tarde regista-se uma expansão por vagas sucessivas do norte para o sul através do Sara, por via das migrações e do comércio de caravanas.
Esta expansão para sul foi variada na sua forma, tendo em conta a natureza da população muçulmana migrante e a sua atitude perante a religião. Cada grupo migrante tinha a sua forma de interagir com o povo acolhedor, o que teve efeitos nos métodos de islamização.
A adaptabilidade do Islão a diferentes ambientes e a sua interacção com a religião animista presente no continente africano vai permitir, por um lado, a sua fácil aceitação pelos africanos e, por outro, provocar mutações na religião islâmica de região para região. Como exemplo podem referir-se as celebrações islâmicas em partes da África Oriental, que incorporaram a dança e o tambor no seu seio. Estas duas características levam a que não se possa falar do Islão em África de uma forma global.

O fenómeno de expansão islâmica assume várias formas na actualidade: pode ser radical ou moderado, político ou apolítico, democrático ou autoritário, envolvendo desde esforços ao nível da educação nas escolas corânicas, a tentativas de chegada ao poder. Ao sul do continente africano, a grande mutação que se regista é a maior influência muçulmana dos países da península arábica. Estes países estão presentes em domínios tão variados como a formação de intelectuais, a construção de mesquitas e o financiamento de obras de caridade e fundações diversas.
O Islão no quadro da reorganização do mundo pós-Guerra Fria
Desde os atentados ocorridos a 11 de Setembro que a palavra Islão adquiriu outro significado para o mundo. Numerosos artigos nos EUA e na Europa, que até então ignoraram África, falam agora do facto de mais de 20% dos muçulmanos viverem na África sub-sariana, e de existirem mais muçulmanos em África do que no Médio Oriente.
Os conflitos religiosos no continente africano assumiram uma outra dimensão.
No entanto, é necessário ter em conta que o Islão em si não é a principal fonte destes conflitos. O problema em África é que os conflitos religiosos estão a mascarar problemas mais prementes como o controlo de riquezas, a fraqueza dos Estados e a falta de meios financeiros para desempenhar o seu papel na educação, saúde, etc., criando tensões que estão a ser definidas em termos islâmicos. Em países como a Nigéria, a Somália ou o Sudão onde os conflitos religiosos se encontram acesos, o Estado falhou no seu papel, e as instituições que conseguem manter algum funcionalismo são precisamente as religiosas (islâmicas e cristãs). São elas que mantêm a educação, apoios humanitários, assumindo mesmo, em alguns Estados, outras funções, como a construção de estradas.
É necessário ter em conta que o Islão em África é muitas vezes usado pelos líderes africanos como um instrumento político, uma forma de desviar as atenções dos conflitos locais, que nada tem a ver com o choque de civilizações, mas sim com a alocação de recursos e ainda que em muitas sociedades africanas o Islão convive pacificamente com as outras comunidades. É importante não confundir Islão com fundamentalismo islâmico.
Os políticos jogam a carta religiosa e étnica para conseguir apoios, dividir e conquistar.
O actual receio terrorista que assola o Ocidente, conjugado com a complexidade e diversidade de problemas que enfrenta o continente africano, representa um risco, pois pode ser usado pelos líderes africanos, não só para adiar reformas conducentes à liberalização política (tal como no passado, após o resultado eleitoral na Argélia), mas também para esmagar a oposição interna e externa, com a cumplicidade do Ocidente.
Durante o mandato de Clinton, o fundamentalismo islâmico foi uma das preocupações americanas no continente. A nova abordagem americana assentou numa nova geração de líderes independentes como Isaias Afwerki, da Eritreia, Meles Zenawi, da Etiópia, Yoweri Museveni, do Uganda e Paul Kagame, do Ruanda. Através destes países, os EUA procuraram deter a expansão do fundamentalismo islâmico, sobretudo do Sudão. Contudo, o renascimento africano proclamado por Clinton falhou. Não foi possível, num espaço de tempo limitado, resolver os problemas estruturais que África encerra.
Enquanto o continente africano continuar a ter Estados disfuncionais, desintegração social, rápido crescimento populacional, taxas de HIV elevadas, guerras, deslocados, fome, as tensões continuarão a existir. O fundamentalis-mo islâmico será apenas mais uma dessas tensões.
Informação complementar
Somália
A fraqueza do Estado central tem consequências também na Somália. Para 90% das crianças em idade escolar, os únicos estabelecimentos de ensino existentes são as escolas corânicas. Após uma longa e sangrenta guerra civil, as únicas instituições que funcionam são os tribunais, escolas e mesquitas islâmicas. São estas instituições que conseguem trazer alguma ordem a zonas anteriormente anárquicas. A lei da sharia está em vigor desde 1993.
Sudão
No Sudão, uma guerra civil sangrenta dura já há 18 anos entre o regime islâmico militar no Norte, e a oposição animista e cristã ao Sul. A descoberta de petróleo (ver mapa “Produção de petróleo no Sudão”) no Sul do Sudão em 1983 contribuiu para o reacender da guerra. Desde então, as diferenças religiosas e étnicas têm sido usadas como arma para controlar as áreas de produção. Cartum procura impor a Sharia a todo o país, ao contrário dos outros Estados africanos, onde apenas é imposta às comunidades muçulmanas.
Nigéria
O actual problema de tensões religiosas na Nigéria – com os esforços dos Estados do Norte para implementar a sharia(3) – tem fortes raízes históricas, étnicas, culturais, políticas e económicas. Em particular, é claro que o facto de a Nigéria ter falhado no uso dos vastos recursos petrolíferos (ver mapa intitulado “Principais áreas de conflito e número de IDP na Nigéria”), concentrados no Sul, para proporcionar melhores condições de vida e um sistema socioeconómico relativamente equitativo contribuiu para o exacerbar das divisões religiosas. Enquanto os problemas económicos e sociais continuarem na Nigéria, o risco de manipulação religiosa para fins políticos e o apelo à religião para encontrar respostas a problemas do mundo material continuarão.
__________
1. Semelhante processo decorre actualmente no Sudão.
2. Na Tanzânia, o presidente Mkapa tem sido acusado de usar como pretexto o fundamentalismo Islâmico do partido CUF para suprimir a oposição no país. No Uganda, os líderes da oposição estão receosos de que a lei recentemente aprovada de pena de morte para quem esteja envolvido ou apoie o terrorismo seja usada para neutralizar os opositores e críticos do regime. A Etiópia vê na actual antipatia por grupos terroristas no Corno de África uma forma de atrair o apoio dos EUA para exercer uma maior pressão sobre os seus inimigos baseados na Somália, especialmente a Al Itihaad.
3. Desde Janeiro de 2000, 12 Estados do Norte introduziram a Sharia.
* Carla Folgôa
Licenciada em Relações Internacionais pela UAL. Assessora da Direcção do Conselho Português para os Refugiados.
A religião islâmica assume grande importância não só no norte de África, mas em todo o continente africano. O encontro do Islão com o animismo africano resultou numa solução religiosa, que foi facilmente assimilada por parte da população, transformando-se numa forma alternativa de organização social.
Apesar de mais de 20% do total mundial de muçulmanos viverem na África subsariana, os conflitos vividos na região não se devem a causas religiosas, mas redicam na luta pelo controle de riquezas, na fraqueza dos Estados e na falta de meios financeiros para que estes desempenhem funções sociais.
A ideia de que mais de um terço da população africana partilha a fé islâmica não nos passa imediatamente pela cabeça quando se pensa em África.
Se nos habituámos a considerar os países do Norte de África como parte do mundo árabe, não reconhecemos tão facilmente a influência islâmica ao sul do Sara.
No entanto, o papel do Islão como força política, social e religiosa na África sub-sariana é também muito importante. Países como o Senegal, o Mali, a Somália têm maiorias muçulmanas. Metade dos 113 milhões de habitantes da Nigéria são muçulmanos. Países como o Gana, o Uganda, o Quénia e a Tanzânia têm grandes comunidades muçulmanas.
O Islão é uma religião fortemente implantada há séculos no continente e como tal tem desempenhado um papel preponderante na evolução de muitas nações africanas. Continua hoje a ser uma religião em expansão, apresentando-se como um sistema alternativo de organização social, política e económica para as comunidades islamizadas.
Como conseguiu o Islão alcançar tão importante posição nesta vasta área e que características adquiriu o Islão em África? Quais os países onde este processo tem sido mais problemático na actualidade?
A islamização de África tem sido um longo e complexo processo.
Em 640 d.c. registou-se a conquista do Norte de África, desde o Egipto até Marrocos. Ao contrário do resto do continente, no Norte de África desenrolaram-se dois processos distintos: islamização e arabização. Por islamização pretende-se referir o processo pelo qual os povos do Norte de África se converteram à religião islâmica e se tornaram muçulmanos. Por arabização refere-se o processo de aculturação através do qual estes povos absorveram numerosos aspectos da cultura árabe, nomeadamente a língua(1).
Ao mesmo tempo que decorria a conquista do Norte de África, o Islão atingiu a África Oriental, não através da conquista armada mas através do comércio no mar Vermelho e no oceano Índico.
Mais tarde regista-se uma expansão por vagas sucessivas do norte para o sul através do Sara, por via das migrações e do comércio de caravanas.
Esta expansão para sul foi variada na sua forma, tendo em conta a natureza da população muçulmana migrante e a sua atitude perante a religião. Cada grupo migrante tinha a sua forma de interagir com o povo acolhedor, o que teve efeitos nos métodos de islamização.
A adaptabilidade do Islão a diferentes ambientes e a sua interacção com a religião animista presente no continente africano vai permitir, por um lado, a sua fácil aceitação pelos africanos e, por outro, provocar mutações na religião islâmica de região para região. Como exemplo podem referir-se as celebrações islâmicas em partes da África Oriental, que incorporaram a dança e o tambor no seu seio. Estas duas características levam a que não se possa falar do Islão em África de uma forma global.

O fenómeno de expansão islâmica assume várias formas na actualidade: pode ser radical ou moderado, político ou apolítico, democrático ou autoritário, envolvendo desde esforços ao nível da educação nas escolas corânicas, a tentativas de chegada ao poder. Ao sul do continente africano, a grande mutação que se regista é a maior influência muçulmana dos países da península arábica. Estes países estão presentes em domínios tão variados como a formação de intelectuais, a construção de mesquitas e o financiamento de obras de caridade e fundações diversas.
O Islão no quadro da reorganização do mundo pós-Guerra Fria
Desde os atentados ocorridos a 11 de Setembro que a palavra Islão adquiriu outro significado para o mundo. Numerosos artigos nos EUA e na Europa, que até então ignoraram África, falam agora do facto de mais de 20% dos muçulmanos viverem na África sub-sariana, e de existirem mais muçulmanos em África do que no Médio Oriente.
Os conflitos religiosos no continente africano assumiram uma outra dimensão.
No entanto, é necessário ter em conta que o Islão em si não é a principal fonte destes conflitos. O problema em África é que os conflitos religiosos estão a mascarar problemas mais prementes como o controlo de riquezas, a fraqueza dos Estados e a falta de meios financeiros para desempenhar o seu papel na educação, saúde, etc., criando tensões que estão a ser definidas em termos islâmicos. Em países como a Nigéria, a Somália ou o Sudão onde os conflitos religiosos se encontram acesos, o Estado falhou no seu papel, e as instituições que conseguem manter algum funcionalismo são precisamente as religiosas (islâmicas e cristãs). São elas que mantêm a educação, apoios humanitários, assumindo mesmo, em alguns Estados, outras funções, como a construção de estradas.
É necessário ter em conta que o Islão em África é muitas vezes usado pelos líderes africanos como um instrumento político, uma forma de desviar as atenções dos conflitos locais, que nada tem a ver com o choque de civilizações, mas sim com a alocação de recursos e ainda que em muitas sociedades africanas o Islão convive pacificamente com as outras comunidades. É importante não confundir Islão com fundamentalismo islâmico.
Os políticos jogam a carta religiosa e étnica para conseguir apoios, dividir e conquistar.
O actual receio terrorista que assola o Ocidente, conjugado com a complexidade e diversidade de problemas que enfrenta o continente africano, representa um risco, pois pode ser usado pelos líderes africanos, não só para adiar reformas conducentes à liberalização política (tal como no passado, após o resultado eleitoral na Argélia), mas também para esmagar a oposição interna e externa, com a cumplicidade do Ocidente.
Durante o mandato de Clinton, o fundamentalismo islâmico foi uma das preocupações americanas no continente. A nova abordagem americana assentou numa nova geração de líderes independentes como Isaias Afwerki, da Eritreia, Meles Zenawi, da Etiópia, Yoweri Museveni, do Uganda e Paul Kagame, do Ruanda. Através destes países, os EUA procuraram deter a expansão do fundamentalismo islâmico, sobretudo do Sudão. Contudo, o renascimento africano proclamado por Clinton falhou. Não foi possível, num espaço de tempo limitado, resolver os problemas estruturais que África encerra.
Enquanto o continente africano continuar a ter Estados disfuncionais, desintegração social, rápido crescimento populacional, taxas de HIV elevadas, guerras, deslocados, fome, as tensões continuarão a existir. O fundamentalis-mo islâmico será apenas mais uma dessas tensões.
Informação complementar
Somália
A fraqueza do Estado central tem consequências também na Somália. Para 90% das crianças em idade escolar, os únicos estabelecimentos de ensino existentes são as escolas corânicas. Após uma longa e sangrenta guerra civil, as únicas instituições que funcionam são os tribunais, escolas e mesquitas islâmicas. São estas instituições que conseguem trazer alguma ordem a zonas anteriormente anárquicas. A lei da sharia está em vigor desde 1993.
Sudão
No Sudão, uma guerra civil sangrenta dura já há 18 anos entre o regime islâmico militar no Norte, e a oposição animista e cristã ao Sul. A descoberta de petróleo (ver mapa “Produção de petróleo no Sudão”) no Sul do Sudão em 1983 contribuiu para o reacender da guerra. Desde então, as diferenças religiosas e étnicas têm sido usadas como arma para controlar as áreas de produção. Cartum procura impor a Sharia a todo o país, ao contrário dos outros Estados africanos, onde apenas é imposta às comunidades muçulmanas.
Nigéria
O actual problema de tensões religiosas na Nigéria – com os esforços dos Estados do Norte para implementar a sharia(3) – tem fortes raízes históricas, étnicas, culturais, políticas e económicas. Em particular, é claro que o facto de a Nigéria ter falhado no uso dos vastos recursos petrolíferos (ver mapa intitulado “Principais áreas de conflito e número de IDP na Nigéria”), concentrados no Sul, para proporcionar melhores condições de vida e um sistema socioeconómico relativamente equitativo contribuiu para o exacerbar das divisões religiosas. Enquanto os problemas económicos e sociais continuarem na Nigéria, o risco de manipulação religiosa para fins políticos e o apelo à religião para encontrar respostas a problemas do mundo material continuarão.
__________
1. Semelhante processo decorre actualmente no Sudão.
2. Na Tanzânia, o presidente Mkapa tem sido acusado de usar como pretexto o fundamentalismo Islâmico do partido CUF para suprimir a oposição no país. No Uganda, os líderes da oposição estão receosos de que a lei recentemente aprovada de pena de morte para quem esteja envolvido ou apoie o terrorismo seja usada para neutralizar os opositores e críticos do regime. A Etiópia vê na actual antipatia por grupos terroristas no Corno de África uma forma de atrair o apoio dos EUA para exercer uma maior pressão sobre os seus inimigos baseados na Somália, especialmente a Al Itihaad.
3. Desde Janeiro de 2000, 12 Estados do Norte introduziram a Sharia.
* Carla Folgôa
Licenciada em Relações Internacionais pela UAL. Assessora da Direcção do Conselho Português para os Refugiados.
A religião islâmica assume grande importância não só no norte de África, mas em todo o continente africano. O encontro do Islão com o animismo africano resultou numa solução religiosa, que foi facilmente assimilada por parte da população, transformando-se numa forma alternativa de organização social.
Apesar de mais de 20% do total mundial de muçulmanos viverem na África subsariana, os conflitos vividos na região não se devem a causas religiosas, mas redicam na luta pelo controle de riquezas, na fraqueza dos Estados e na falta de meios financeiros para que estes desempenhem funções sociais.
A ideia de que mais de um terço da população africana partilha a fé islâmica não nos passa imediatamente pela cabeça quando se pensa em África.
Se nos habituámos a considerar os países do Norte de África como parte do mundo árabe, não reconhecemos tão facilmente a influência islâmica ao sul do Sara.
No entanto, o papel do Islão como força política, social e religiosa na África sub-sariana é também muito importante. Países como o Senegal, o Mali, a Somália têm maiorias muçulmanas. Metade dos 113 milhões de habitantes da Nigéria são muçulmanos. Países como o Gana, o Uganda, o Quénia e a Tanzânia têm grandes comunidades muçulmanas.
O Islão é uma religião fortemente implantada há séculos no continente e como tal tem desempenhado um papel preponderante na evolução de muitas nações africanas. Continua hoje a ser uma religião em expansão, apresentando-se como um sistema alternativo de organização social, política e económica para as comunidades islamizadas.
Como conseguiu o Islão alcançar tão importante posição nesta vasta área e que características adquiriu o Islão em África? Quais os países onde este processo tem sido mais problemático na actualidade?
A islamização de África tem sido um longo e complexo processo.
Em 640 d.c. registou-se a conquista do Norte de África, desde o Egipto até Marrocos. Ao contrário do resto do continente, no Norte de África desenrolaram-se dois processos distintos: islamização e arabização. Por islamização pretende-se referir o processo pelo qual os povos do Norte de África se converteram à religião islâmica e se tornaram muçulmanos. Por arabização refere-se o processo de aculturação através do qual estes povos absorveram numerosos aspectos da cultura árabe, nomeadamente a língua(1).
Ao mesmo tempo que decorria a conquista do Norte de África, o Islão atingiu a África Oriental, não através da conquista armada mas através do comércio no mar Vermelho e no oceano Índico.
Mais tarde regista-se uma expansão por vagas sucessivas do norte para o sul através do Sara, por via das migrações e do comércio de caravanas.
Esta expansão para sul foi variada na sua forma, tendo em conta a natureza da população muçulmana migrante e a sua atitude perante a religião. Cada grupo migrante tinha a sua forma de interagir com o povo acolhedor, o que teve efeitos nos métodos de islamização.
A adaptabilidade do Islão a diferentes ambientes e a sua interacção com a religião animista presente no continente africano vai permitir, por um lado, a sua fácil aceitação pelos africanos e, por outro, provocar mutações na religião islâmica de região para região. Como exemplo podem referir-se as celebrações islâmicas em partes da África Oriental, que incorporaram a dança e o tambor no seu seio. Estas duas características levam a que não se possa falar do Islão em África de uma forma global.

O fenómeno de expansão islâmica assume várias formas na actualidade: pode ser radical ou moderado, político ou apolítico, democrático ou autoritário, envolvendo desde esforços ao nível da educação nas escolas corânicas, a tentativas de chegada ao poder. Ao sul do continente africano, a grande mutação que se regista é a maior influência muçulmana dos países da península arábica. Estes países estão presentes em domínios tão variados como a formação de intelectuais, a construção de mesquitas e o financiamento de obras de caridade e fundações diversas.
O Islão no quadro da reorganização do mundo pós-Guerra Fria
Desde os atentados ocorridos a 11 de Setembro que a palavra Islão adquiriu outro significado para o mundo. Numerosos artigos nos EUA e na Europa, que até então ignoraram África, falam agora do facto de mais de 20% dos muçulmanos viverem na África sub-sariana, e de existirem mais muçulmanos em África do que no Médio Oriente.
Os conflitos religiosos no continente africano assumiram uma outra dimensão.
No entanto, é necessário ter em conta que o Islão em si não é a principal fonte destes conflitos. O problema em África é que os conflitos religiosos estão a mascarar problemas mais prementes como o controlo de riquezas, a fraqueza dos Estados e a falta de meios financeiros para desempenhar o seu papel na educação, saúde, etc., criando tensões que estão a ser definidas em termos islâmicos. Em países como a Nigéria, a Somália ou o Sudão onde os conflitos religiosos se encontram acesos, o Estado falhou no seu papel, e as instituições que conseguem manter algum funcionalismo são precisamente as religiosas (islâmicas e cristãs). São elas que mantêm a educação, apoios humanitários, assumindo mesmo, em alguns Estados, outras funções, como a construção de estradas.
É necessário ter em conta que o Islão em África é muitas vezes usado pelos líderes africanos como um instrumento político, uma forma de desviar as atenções dos conflitos locais, que nada tem a ver com o choque de civilizações, mas sim com a alocação de recursos e ainda que em muitas sociedades africanas o Islão convive pacificamente com as outras comunidades. É importante não confundir Islão com fundamentalismo islâmico.
Os políticos jogam a carta religiosa e étnica para conseguir apoios, dividir e conquistar.
O actual receio terrorista que assola o Ocidente, conjugado com a complexidade e diversidade de problemas que enfrenta o continente africano, representa um risco, pois pode ser usado pelos líderes africanos, não só para adiar reformas conducentes à liberalização política (tal como no passado, após o resultado eleitoral na Argélia), mas também para esmagar a oposição interna e externa, com a cumplicidade do Ocidente.
Durante o mandato de Clinton, o fundamentalismo islâmico foi uma das preocupações americanas no continente. A nova abordagem americana assentou numa nova geração de líderes independentes como Isaias Afwerki, da Eritreia, Meles Zenawi, da Etiópia, Yoweri Museveni, do Uganda e Paul Kagame, do Ruanda. Através destes países, os EUA procuraram deter a expansão do fundamentalismo islâmico, sobretudo do Sudão. Contudo, o renascimento africano proclamado por Clinton falhou. Não foi possível, num espaço de tempo limitado, resolver os problemas estruturais que África encerra.
Enquanto o continente africano continuar a ter Estados disfuncionais, desintegração social, rápido crescimento populacional, taxas de HIV elevadas, guerras, deslocados, fome, as tensões continuarão a existir. O fundamentalis-mo islâmico será apenas mais uma dessas tensões.
Informação complementar
Somália
A fraqueza do Estado central tem consequências também na Somália. Para 90% das crianças em idade escolar, os únicos estabelecimentos de ensino existentes são as escolas corânicas. Após uma longa e sangrenta guerra civil, as únicas instituições que funcionam são os tribunais, escolas e mesquitas islâmicas. São estas instituições que conseguem trazer alguma ordem a zonas anteriormente anárquicas. A lei da sharia está em vigor desde 1993.
Sudão
No Sudão, uma guerra civil sangrenta dura já há 18 anos entre o regime islâmico militar no Norte, e a oposição animista e cristã ao Sul. A descoberta de petróleo (ver mapa “Produção de petróleo no Sudão”) no Sul do Sudão em 1983 contribuiu para o reacender da guerra. Desde então, as diferenças religiosas e étnicas têm sido usadas como arma para controlar as áreas de produção. Cartum procura impor a Sharia a todo o país, ao contrário dos outros Estados africanos, onde apenas é imposta às comunidades muçulmanas.
Nigéria
O actual problema de tensões religiosas na Nigéria – com os esforços dos Estados do Norte para implementar a sharia(3) – tem fortes raízes históricas, étnicas, culturais, políticas e económicas. Em particular, é claro que o facto de a Nigéria ter falhado no uso dos vastos recursos petrolíferos (ver mapa intitulado “Principais áreas de conflito e número de IDP na Nigéria”), concentrados no Sul, para proporcionar melhores condições de vida e um sistema socioeconómico relativamente equitativo contribuiu para o exacerbar das divisões religiosas. Enquanto os problemas económicos e sociais continuarem na Nigéria, o risco de manipulação religiosa para fins políticos e o apelo à religião para encontrar respostas a problemas do mundo material continuarão.
__________
1. Semelhante processo decorre actualmente no Sudão.
2. Na Tanzânia, o presidente Mkapa tem sido acusado de usar como pretexto o fundamentalismo Islâmico do partido CUF para suprimir a oposição no país. No Uganda, os líderes da oposição estão receosos de que a lei recentemente aprovada de pena de morte para quem esteja envolvido ou apoie o terrorismo seja usada para neutralizar os opositores e críticos do regime. A Etiópia vê na actual antipatia por grupos terroristas no Corno de África uma forma de atrair o apoio dos EUA para exercer uma maior pressão sobre os seus inimigos baseados na Somália, especialmente a Al Itihaad.
3. Desde Janeiro de 2000, 12 Estados do Norte introduziram a Sharia.
* Carla Folgôa
Licenciada em Relações Internacionais pela UAL. Assessora da Direcção do Conselho Português para os Refugiados.

Pacto de Varsóvia

O Pacto de Varsóvia foi uma aliança militar formada em 28 de Maio de 1955 pelos países socialistas do Leste Europeu e pela União Soviética. O tratado correspondente foi firmado na capital da Polônia, Varsóvia, e estabeleceu o alinhamento dos países membros com Moscovo, estabelecendo um compromisso de ajuda mútua em caso de agressões militares.

O organismo militar foi instituído em contraponto à OTAN (Organização Tratado do Atlântico Norte), organização internacional que uniu as nações capitalistas da Europa Ocidental e os Estados Unidos para a prevenção e defesa dos países membros contra eventuais ataques vindos do Leste Europeu.

Os países que fizeram parte do Pacto de Varsóvia eram alguns nos quais foram instituídos governos socialistas pela URSS, após a Segunda Guerra Mundial. União Soviética, Alemanha Oriental, Bulgária, Hungria, Polônia, Checoslováquia e Romênia foram os países membros, sendo que a estrutura militar seguia as diretrizes soviéticas. A Iugoslávia, por oposição do Marechal Tito, se recusou a ingressar no bloco.

Porém, as principais ações do Pacto foram dentro dos países-membros para a repressão de revoltas internas. Em 1956, tropas reprimiram manifestações populares na Hungria e Polônia, e em 1968, na Tchecoslováquia, na chamada Primavera de Praga.

As mudanças no cenário geopolítico da Europa Oriental no final da década de 80, com a queda dos governos socialistas, o fim do Muro de Berlim, o fim da Guerra Fria e a crise na URSS levaram a extinção do Pacto em 31 de Março de 1991. O fim do Pacto de Varsóvia representou, também, o fim da Guerra Fria.

Seis anos depois, a OTAN convida a República Checa, Hungria e Polônia a ingressarem na organização, demonstrando uma nova configuração das forças militares na Europa pós-Guerra Fria

Segunda Guerra Mundial

Introdução : As causas da Segunda Guerra Mundial
Um conflito desta magnitude não começa sem importantes causas ou motivos. Podemos dizer que vários fatores influenciaram o início deste conflito que se iniciou na Europa e, rapidamente, espalhou-se pela África e Ásia.

Um dos mais importantes motivos foi o surgimento, na década de 1930, na Europa, de governos totalitários com fortes objetivos militaristas e expansionistas. Na Alemanha surgiu o nazismo, liderado por Hitler e que pretendia expandir o território Alemão, desrespeitando o Tratado de Versalhes, inclusive reconquistando territórios perdidos na Primeira Guerra. Na Itália estava crescendo o Partido Fascista, liderado por Benito Mussolini, que se tornou o Duce da Itália, com poderes sem limites.
Tanto a Itália quanto a Alemanha passavam por uma grave crise econômica no início da década de 1930, com milhões de cidadãos sem emprego. Uma das soluções tomadas pelos governos fascistas destes países foi a industrialização, principalmente na criação de
indústrias de armamentos e equipamentos bélicos (aviões de guerra, navios, tanques etc).
Na Ásia, o
Japão também possuía fortes desejos de expandir seus domínios para territórios vizinhos e ilhas da região. Estes três países, com objetivos expansionistas, uniram-se e formaram o Eixo. Um acordo com fortes características militares e com planos de conquistas elaborados em comum acordo.

O Início
O marco inicial ocorreu no ano de 1939, quando o exército alemão invadiu a Polônia. De imediato, a França e a Inglaterra declararam guerra à Alemanha. De acordo com a política de alianças militares existentes na época, formaram-se dois grupos : Aliados ( liderados por Inglaterra, URSS, França e Estados Unidos ) e Eixo ( Alemanha, Itália e Japão ).

Desenvolvimento e Fatos Históricos Importantes:

  • O período de 1939 a 1941 foi marcado por vitórias do Eixo, lideradas pelas forças armadas da Alemanha, que conquistou o Norte da França, Iugoslávia, Polônia, Ucrânia, Noruega e territórios no norte da África. O Japão anexou a Manchúria, enquanto a Itália conquistava a Albânia e territórios da Líbia.

  • Em 1941 o Japão ataca a base militar norte-americana de Pearl Harbor no Oceano Pacífico (Havaí). Após este fato, considerado uma traição pelos norte-americanos, os estados Unidos entraram no conflito ao lado das forças aliadas.

  • De 1941 a 1945 ocorreram as derrotas do Eixo, iniciadas com as perdas sofridas pelos alemães no rigoroso inverno russo. Neste período, ocorre uma regressão das forças do Eixo que sofrem derrotas seguidas. Com a entrada dos EUA, os aliados ganharam força nas frentes de batalhas.

  • O Brasil participa diretamente, enviando para a Itália ( região de Monte Cassino ) os pracinhas da FEB, Força Expedicionária Brasileira. Os cerca de 25 mil soldados brasileiros conquistam a região, somando uma importante vitória ao lado dos Aliados.

Final e Conseqüências
Este importante e triste conflito terminou somente no ano de 1945 com a rendição da Alemanha e Itália. O Japão, último país a assinar o tratado de rendição, ainda sofreu um forte ataque dos Estados Unidos, que despejou bombas atômicas sobre as cidades de Hiroshima e Nagazaki. Uma ação desnecessária que provocou a morte de milhares de cidadãos japoneses inocentes, deixando um rastro de destruição nestas cidades.

bomba atômica
Bomba Atômica explode na cidade japonesa de Hiroshima

Os prejuízos foram enormes, principalmente para os países derrotados. Foram milhões de mortos e feridos, cidades destruídas, indústrias e zonas rurais arrasadas e dívidas incalculáveis. O racismo esteve presente e deixou uma ferida grave, principalmente na Alemanha, onde os nazistas mandaram para campos de concentração e mataram aproximadamente seis milhões de judeus.
Com o final do conflito, em 1945, foi criada a ONU ( Organização das Nações Unidas ), cujo objetivo principal seria a manutenção da paz entre as nações. Inicia-se também um período conhecido como Guerra Fria, colocando agora, em lados opostos, Estados Unidos e União Soviética. Uma disputa geopolítica entre o capitalismo norte-americano e o socialismo soviético, onde ambos países buscavam ampliar suas áreas de influência sem entrar em conflitos armados.

Thursday, April 17, 2008

Conferência Berlim

A Conferência de Berlim, realizada entre 15 de Novembro de 1884 e 26 de Fevereiro de 1885, constituida pelos países da Europa, entre os quais Portugal, Alemanha, Reino Unido, França e Espanha, teve como principal objectivo a partilha de África entre os países europeus de forma a acabar com os conflitos entre eles pela posse de territórios africanos.

África antes da Conferência

África depois da Conferência

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A divisão arbitrária da África teve o seu marco com a Conferência de Berlim iniciada em 1884 e só terminou no ano seguinte. Dela participaram os 15 países, 13 da Europa mais Estados Unidos e Turquia. Os Estados Unidos não possuíam colônias na África, mas era uma potência em ascensão. A Turquia, nesta época, ainda era o centro do extenso Império Otomano. Diversos assuntos foram tratados, mas o principal objetivo foi o de regulamentar a expansão das potências coloniais na África a partir dos pontos que ocupavam no litoral. A Grã-Bretanha e a França foram as que obtiveram mais territórios, seguidas de Portugal, Bélgica e Espanha. Territórios mais reduzidos foram ocupados pela Alemanha e pela Itália. Estes haviam entrado recentemente na corrida colonial devido aos seus tardios processos de unificação nacional. A Alemanha perderia o domínio de suas colônias africanas após a Primeira Guerra Mundial, acontecendo a mesma coisa com a Itália no final da Segunda Guerra.

Thursday, April 10, 2008

Imperialismo

Com o acúmulo de riqueza no século XIX houve a necessidade de conquistar novos mercados consumidores. Com isso ocorreu o Imperialismo, que foi a dominação dos países industrializados da Europa sobre países tidos como "atrasados" da África e Ásia. Houve dominação também na América.

Essa colonização, a do século XIX, foi diferente da colonização que ocorreu entre os séculos XVI e XVIII, época da transição do feudalismo para o capitalismo.
No Imperialismo a busca era por fornecedores de matérias-primas para as indústrias e, conseqüêntemente, de mercados consumidores, enquanto que a colonização que começou no século XVI, buscava metais preciosos, de grande valor no mercado europeu. Além disso, essa colonização se concentrou mais na América.

O processo de colonização:

A dominação européia não teve limites. Para eles os africanos e os asiáticos eram povos "subdesenvolvidos" e necessitavam de mudanças.
Tinham como argumento que um povo civilizado seria aquele que tivesse a mesma cultura européia, isso é, o mesmo modo de vida e o mesmo desenvolvimento.

Violência contra os africanos Usavam de violência com a população, utilizando exploração pela força e submissão racial.
Alguns tinham por argumento a religião. Queriam levar a palavra de Deus aos povos que não eram cristãos.

De uma forma ou de outra, sempre menosprezaram os povos colonizados.

Houve também outros tipos de domínio. A dominação econômica deu-se em países que tinham independência e um governo próprio.
Com isso ficaram submetidos ao controle econômico dos países imperialistas. Essa dominação ocorreu em países da América Latina.

A partilha da África Imperialismo na África

Os europeus já exploravam algumas regiões do litoral Africano desde o século XVI, por causa do comércio de escravos. Mas os europeus não conheciam totalmente a África.
Houve muitas expedições com a finalidade de conhecer mais a África. Muitos aventureiros, botânicos, biólogos foram para lá estudar e conhecer a região.

Foi a partir de 1870 que começou a disputa imperialista.

Em 1885 foi realizada uma Conferência Internacional em Berlim, onde se estabeleceu a partilha da África para que não houvesse conflitos. A Conferência ocorreu de 1885 até 1887.
Os países que já tinham domínio sobre algumas regiões expandiram seus territórios. Houve algumas resistências internas contra a modernização ocidental:

A guerra dos Bôeres

Os britânicos queriam ocupar as regiões de Transvaal e Rodésia, por causa das jazidas de ouro e diamantes, mas tiveram que enfrentar a resistência dos bôeres.
A disputa durou de 1899 até 1902, com a vitória dos britânicos.

O Apartheid

Além da destruição dos povos e suas culturas, houve na África o racismo, sendo de grande intensidade na África do Sul com a política de segregação racial, o apartheid.

Isso ocorreu a partir de 1911, onde ingleses e as populações brancas nascidas na África (os africâners) queriam o domínio sobre a população negra.
Em 1948 teve início o regime de segregação racial, o apartheid, com a chegada ao poder do Partido Nacional. As leis impostas aos negros foram:

  • não tinham participação política;

  • não podiam ter os empregos com melhor remuneração;

  • tinham que viver em áreas longe das residências dos brancos;

  • não tinham acesso à propriedade de terra.

Começaram a haver resistências. Nelson Mandela, líder do Congresso Nacional Africano (CNA), organiza oposições ao governo.
Muitos negros foram mortos quando faziam manifestações. Nelson Mandela acabou preso em 1962.

Depois de disputas pelo fim do regime, este começou a se enfraquecer.
Outras nações fizeram pressão para o fim do apartheid, o que fez por desestabilizar a economia africana.

O governo necessitava de mudanças, e em 1987 o Partido Nacional não consegue votos suficientes para continuar no poder.
O novo presidente Frederik de Klerk revoga as leis do apartheid.

Nelson Mandela foi solto em 1990 e voltou a dirigir a CNA. Ele ganhou o Prêmio Nobel da Paz em 1993 junto com Frederik Klerk, e em 1994 foi eleito presidente pelo CNA.

Muitas mudanças são feitas na África.

Tipos de Pesquisa

Este capítulo não era para existir, já que não vejo a menor importância na necessidade de um pesquisador ter que definir o tipo de pesquisa que vai executar. O importante é que o pesquisador saiba usar os instrumentos adequados para encontrar respostas ao problema que ele tenha levantado.
No entanto são tantas as pessoas que me consultam através desta Home Page sobre este assunto, que resolvi acrescentar este capítulo. O que ocorre aqui parece ser aquele lema conhecido pelos estudiosos da dinâmica educacional: "se podemos complicar para que simplificar?"
Pesquisa é o mesmo que busca ou procura. Pesquisar, portanto, é buscar ou procurar resposta para alguma coisa. Em se tratando de Ciência a pesquisa é a busca de solução a um problema que o alguém queira saber a resposta. Não gosto de dizer que se faz ciência, mas que se produz ciência através de uma pesquisa. Pesquisa é portanto o caminho para se chegar à ciência, ao conhecimento.
É na pesquisa que utilizaremos diferentes instrumentos para se chegar a uma resposta mais precisa. O instrumento ideal deverá ser estipulado pelo pesquisador para se atingir os resultados ideais. Num exemplo grosseiro eu não poderia procurar um tesouro numa praia cavando um buraco com uma picareta; eu precisaria de uma pá. Da mesma forma eu não poderia fazer um buraco no cimento com uma pá; eu precisaria de uma picareta. Por isso a importância de se definir o tipo de pesquisa e da escolha do instrumental ideal a ser utilizado.
A Ciência, através da evolução de seus conceitos, está dividida por áreas do conhecimento. Assim, hoje temos conhecimento das Ciências Humanas, Sociais, Biológicas, Exatas, entre outras. Mesmo estas divisões tem outras sub-divisões cuja definição
varia segundo conceitos de muitos autores. As Ciências Sociais, por exemplo, pode ser dividida em Direito, História, Sociologia etc.


Tentando descomplicar prefiro definir os tipos de pesquisa desta forma:

Pesquisa Experimental: É toda pesquisa que envolve algum tipo de experimento.

Exemplo: Pinga-se uma gota de ácido numa placa de metal para observar o resultado.


Pesquisa Exploratória: É toda pesquisa que busca constatar algo num organismo ou num fenômeno.

Exemplo: Saber como os peixes respiram.


Pesquisa Social: É toda pesquisa que busca respostas de um grupo social.

Exemplo: Saber quais os hábitos alimentares de uma comunidade específica.


Pesquisa Histórica: É toda pesquisa que estuda o passado.

Exemplo: Saber de que forma se deu a Proclamação da República brasileira.


Pesquisa Teórica: É toda pesquisa que analisa uma determinada teoria.

Exemplo: Saber o que é a Neutralidade Científica.

Antecedentes
Vários problemas atingiam as principais nações europeias no início do século XX. O século anterior havia deixado feridas difíceis de curar. Alguns países estavam extremamente descontentes com a partilha da Ásia e da África, ocorrida no final do século XIX. Alemanha e Itália, por exemplo, haviam ficado de fora no processo neocolonial. Enquanto isso, França e Inglaterra podiam explorar diversas colónias, ricas em matérias-primas e com um grande mercado consumidor. A insatisfação da Itália e da Alemanha, neste contexto, pode ser considerada uma das causas da Grande Guerra.

Vale lembrar também que no início do século XX havia uma forte concorrência comercial entre os países europeus, principalmente na disputa pelos mercados consumidores. Esta concorrência gerou vários conflitos de interesses entre as nações. Ao mesmo tempo, os países estavam empenhados numa rápida corrida armamentista, já como uma maneira de se protegerem, ou atacarem, no futuro próximo. Esta corrida bélica gerava um clima de apreensão e medo entre os países, onde um tentava se armar mais do que o outro.

Existia também, entre duas nações poderosas da época, uma rivalidade muito grande. A França havia perdido, no final do século XIX, a região da Alsácia-Lorena para a Alemanha, durante a Guerra Franco Prussiana. O revanchismo francês estava no ar, e os franceses esperando uma oportunidade para retomar a rica região perdida.

O pangermanismo e o pan-eslavismo também influenciou e aumentou o estado de alerta na Europa. Havia uma forte vontade nacionalista dos germânicos em unir, em apenas uma nação, todos os países de origem germânica. O mesmo acontecia com os países eslavos.

O início da Grande Guerra
O estopim deste conflito foi o assassinato de Francisco Feriando, príncipe do império austro-húngaro, durante sua visita a Saravejo (Bósnia-Herzegovina). As investigações levaram ao criminoso, um jovem integrante de um grupo Sérvio chamado mão-de-obra, contrário a influência da Áustria-Hungria na região dos Balcãs. O império austro-húngaro não aceitou as medidas tomadas pela Sérvia com relação ao crime e, no dia 28 de Julho de 1914, declarou guerra à Servia.

Política de Alianças
Os países europeus começaram a fazer alianças políticas e militares desde o final do século XIX. Durante o conflito mundial estas alianças permaneceram. De um lado havia a Tríplice Aliança formada em 1882 por Itália, Império Austro-Húngaro e Alemanha ( a Itália passou para a outra aliança em 1915). Do outro lado a Tríplice Intente, formada em 1907, com a participação de França, Rússia e Reino Unido.

O Brasil também participou, enviando para os campos de batalha enfermeiros e medicamentos para ajudar os países da Tríplice Intente.

Desenvolvimento
As batalhas desenvolveram-se principalmente em trincheiras. Os soldados ficavam, muitas vezes, centenas de dias entrincheirados, lutando pela conquista de pequenos pedaços de território. A fome e as doenças também eram os inimigos destes guerreiros. Nos combates também houve a utilização de novas tecnologias bélicas como, por exemplo, tanques de guerra e aviões. Enquanto os homens lutavam nas trincheiras, as mulheres trabalhavam nas indústrias bélicas como empregadas.

Fim do conflito
Em 1917 ocorreu um fato histórico de extrema importância : a entrada dos Estados Unidos no conflito. Os EUA entraram ao lado da Tríplice Entente, pois havia acordos comerciais a defender, principalmente com Inglaterra e França. Este fato marcou a vitória da Entente, forçando os países da Aliança a assinarem a rendição. Os derrotados tiveram ainda que assinar o Tratado de Versa-lhes que impunha a estes países fortes restrições e punições. A Alemanha teve seu exército reduzido, sua indústria bélica controlada, perdeu a região do corredor polónias, teve que devolver à França a região da Alsácia Lorena, além de ter que pagar os prejuízos da guerra dos países vencedores. O Tratado de Versa lhes teve repercussões na Alemanha, influenciando o início da Segunda Guerra Mundial.

A guerra gerou aproximadamente 10 milhões de mortos, o triplo de feridos, arrasou campos agrícolas, destruiu indústrias, além de gerar grandes prejuízos económicos.