Thursday, May 22, 2008

Islão em África
A religião islâmica assume grande importância não só no norte de África, mas em todo o continente africano. O encontro do Islão com o animismo africano resultou numa solução religiosa, que foi facilmente assimilada por parte da população, transformando-se numa forma alternativa de organização social.
Apesar de mais de 20% do total mundial de muçulmanos viverem na África subsariana, os conflitos vividos na região não se devem a causas religiosas, mas redicam na luta pelo controle de riquezas, na fraqueza dos Estados e na falta de meios financeiros para que estes desempenhem funções sociais.
A ideia de que mais de um terço da população africana partilha a fé islâmica não nos passa imediatamente pela cabeça quando se pensa em África.
Se nos habituámos a considerar os países do Norte de África como parte do mundo árabe, não reconhecemos tão facilmente a influência islâmica ao sul do Sara.
No entanto, o papel do Islão como força política, social e religiosa na África sub-sariana é também muito importante. Países como o Senegal, o Mali, a Somália têm maiorias muçulmanas. Metade dos 113 milhões de habitantes da Nigéria são muçulmanos. Países como o Gana, o Uganda, o Quénia e a Tanzânia têm grandes comunidades muçulmanas.
O Islão é uma religião fortemente implantada há séculos no continente e como tal tem desempenhado um papel preponderante na evolução de muitas nações africanas. Continua hoje a ser uma religião em expansão, apresentando-se como um sistema alternativo de organização social, política e económica para as comunidades islamizadas.
Como conseguiu o Islão alcançar tão importante posição nesta vasta área e que características adquiriu o Islão em África? Quais os países onde este processo tem sido mais problemático na actualidade?
A islamização de África tem sido um longo e complexo processo.
Em 640 d.c. registou-se a conquista do Norte de África, desde o Egipto até Marrocos. Ao contrário do resto do continente, no Norte de África desenrolaram-se dois processos distintos: islamização e arabização. Por islamização pretende-se referir o processo pelo qual os povos do Norte de África se converteram à religião islâmica e se tornaram muçulmanos. Por arabização refere-se o processo de aculturação através do qual estes povos absorveram numerosos aspectos da cultura árabe, nomeadamente a língua(1).
Ao mesmo tempo que decorria a conquista do Norte de África, o Islão atingiu a África Oriental, não através da conquista armada mas através do comércio no mar Vermelho e no oceano Índico.
Mais tarde regista-se uma expansão por vagas sucessivas do norte para o sul através do Sara, por via das migrações e do comércio de caravanas.
Esta expansão para sul foi variada na sua forma, tendo em conta a natureza da população muçulmana migrante e a sua atitude perante a religião. Cada grupo migrante tinha a sua forma de interagir com o povo acolhedor, o que teve efeitos nos métodos de islamização.
A adaptabilidade do Islão a diferentes ambientes e a sua interacção com a religião animista presente no continente africano vai permitir, por um lado, a sua fácil aceitação pelos africanos e, por outro, provocar mutações na religião islâmica de região para região. Como exemplo podem referir-se as celebrações islâmicas em partes da África Oriental, que incorporaram a dança e o tambor no seu seio. Estas duas características levam a que não se possa falar do Islão em África de uma forma global.

O fenómeno de expansão islâmica assume várias formas na actualidade: pode ser radical ou moderado, político ou apolítico, democrático ou autoritário, envolvendo desde esforços ao nível da educação nas escolas corânicas, a tentativas de chegada ao poder. Ao sul do continente africano, a grande mutação que se regista é a maior influência muçulmana dos países da península arábica. Estes países estão presentes em domínios tão variados como a formação de intelectuais, a construção de mesquitas e o financiamento de obras de caridade e fundações diversas.
O Islão no quadro da reorganização do mundo pós-Guerra Fria
Desde os atentados ocorridos a 11 de Setembro que a palavra Islão adquiriu outro significado para o mundo. Numerosos artigos nos EUA e na Europa, que até então ignoraram África, falam agora do facto de mais de 20% dos muçulmanos viverem na África sub-sariana, e de existirem mais muçulmanos em África do que no Médio Oriente.
Os conflitos religiosos no continente africano assumiram uma outra dimensão.
No entanto, é necessário ter em conta que o Islão em si não é a principal fonte destes conflitos. O problema em África é que os conflitos religiosos estão a mascarar problemas mais prementes como o controlo de riquezas, a fraqueza dos Estados e a falta de meios financeiros para desempenhar o seu papel na educação, saúde, etc., criando tensões que estão a ser definidas em termos islâmicos. Em países como a Nigéria, a Somália ou o Sudão onde os conflitos religiosos se encontram acesos, o Estado falhou no seu papel, e as instituições que conseguem manter algum funcionalismo são precisamente as religiosas (islâmicas e cristãs). São elas que mantêm a educação, apoios humanitários, assumindo mesmo, em alguns Estados, outras funções, como a construção de estradas.
É necessário ter em conta que o Islão em África é muitas vezes usado pelos líderes africanos como um instrumento político, uma forma de desviar as atenções dos conflitos locais, que nada tem a ver com o choque de civilizações, mas sim com a alocação de recursos e ainda que em muitas sociedades africanas o Islão convive pacificamente com as outras comunidades. É importante não confundir Islão com fundamentalismo islâmico.
Os políticos jogam a carta religiosa e étnica para conseguir apoios, dividir e conquistar.
O actual receio terrorista que assola o Ocidente, conjugado com a complexidade e diversidade de problemas que enfrenta o continente africano, representa um risco, pois pode ser usado pelos líderes africanos, não só para adiar reformas conducentes à liberalização política (tal como no passado, após o resultado eleitoral na Argélia), mas também para esmagar a oposição interna e externa, com a cumplicidade do Ocidente.
Durante o mandato de Clinton, o fundamentalismo islâmico foi uma das preocupações americanas no continente. A nova abordagem americana assentou numa nova geração de líderes independentes como Isaias Afwerki, da Eritreia, Meles Zenawi, da Etiópia, Yoweri Museveni, do Uganda e Paul Kagame, do Ruanda. Através destes países, os EUA procuraram deter a expansão do fundamentalismo islâmico, sobretudo do Sudão. Contudo, o renascimento africano proclamado por Clinton falhou. Não foi possível, num espaço de tempo limitado, resolver os problemas estruturais que África encerra.
Enquanto o continente africano continuar a ter Estados disfuncionais, desintegração social, rápido crescimento populacional, taxas de HIV elevadas, guerras, deslocados, fome, as tensões continuarão a existir. O fundamentalis-mo islâmico será apenas mais uma dessas tensões.
Informação complementar
Somália
A fraqueza do Estado central tem consequências também na Somália. Para 90% das crianças em idade escolar, os únicos estabelecimentos de ensino existentes são as escolas corânicas. Após uma longa e sangrenta guerra civil, as únicas instituições que funcionam são os tribunais, escolas e mesquitas islâmicas. São estas instituições que conseguem trazer alguma ordem a zonas anteriormente anárquicas. A lei da sharia está em vigor desde 1993.
Sudão
No Sudão, uma guerra civil sangrenta dura já há 18 anos entre o regime islâmico militar no Norte, e a oposição animista e cristã ao Sul. A descoberta de petróleo (ver mapa “Produção de petróleo no Sudão”) no Sul do Sudão em 1983 contribuiu para o reacender da guerra. Desde então, as diferenças religiosas e étnicas têm sido usadas como arma para controlar as áreas de produção. Cartum procura impor a Sharia a todo o país, ao contrário dos outros Estados africanos, onde apenas é imposta às comunidades muçulmanas.
Nigéria
O actual problema de tensões religiosas na Nigéria – com os esforços dos Estados do Norte para implementar a sharia(3) – tem fortes raízes históricas, étnicas, culturais, políticas e económicas. Em particular, é claro que o facto de a Nigéria ter falhado no uso dos vastos recursos petrolíferos (ver mapa intitulado “Principais áreas de conflito e número de IDP na Nigéria”), concentrados no Sul, para proporcionar melhores condições de vida e um sistema socioeconómico relativamente equitativo contribuiu para o exacerbar das divisões religiosas. Enquanto os problemas económicos e sociais continuarem na Nigéria, o risco de manipulação religiosa para fins políticos e o apelo à religião para encontrar respostas a problemas do mundo material continuarão.
__________
1. Semelhante processo decorre actualmente no Sudão.
2. Na Tanzânia, o presidente Mkapa tem sido acusado de usar como pretexto o fundamentalismo Islâmico do partido CUF para suprimir a oposição no país. No Uganda, os líderes da oposição estão receosos de que a lei recentemente aprovada de pena de morte para quem esteja envolvido ou apoie o terrorismo seja usada para neutralizar os opositores e críticos do regime. A Etiópia vê na actual antipatia por grupos terroristas no Corno de África uma forma de atrair o apoio dos EUA para exercer uma maior pressão sobre os seus inimigos baseados na Somália, especialmente a Al Itihaad.
3. Desde Janeiro de 2000, 12 Estados do Norte introduziram a Sharia.
* Carla Folgôa
Licenciada em Relações Internacionais pela UAL. Assessora da Direcção do Conselho Português para os Refugiados.
A religião islâmica assume grande importância não só no norte de África, mas em todo o continente africano. O encontro do Islão com o animismo africano resultou numa solução religiosa, que foi facilmente assimilada por parte da população, transformando-se numa forma alternativa de organização social.
Apesar de mais de 20% do total mundial de muçulmanos viverem na África subsariana, os conflitos vividos na região não se devem a causas religiosas, mas redicam na luta pelo controle de riquezas, na fraqueza dos Estados e na falta de meios financeiros para que estes desempenhem funções sociais.
A ideia de que mais de um terço da população africana partilha a fé islâmica não nos passa imediatamente pela cabeça quando se pensa em África.
Se nos habituámos a considerar os países do Norte de África como parte do mundo árabe, não reconhecemos tão facilmente a influência islâmica ao sul do Sara.
No entanto, o papel do Islão como força política, social e religiosa na África sub-sariana é também muito importante. Países como o Senegal, o Mali, a Somália têm maiorias muçulmanas. Metade dos 113 milhões de habitantes da Nigéria são muçulmanos. Países como o Gana, o Uganda, o Quénia e a Tanzânia têm grandes comunidades muçulmanas.
O Islão é uma religião fortemente implantada há séculos no continente e como tal tem desempenhado um papel preponderante na evolução de muitas nações africanas. Continua hoje a ser uma religião em expansão, apresentando-se como um sistema alternativo de organização social, política e económica para as comunidades islamizadas.
Como conseguiu o Islão alcançar tão importante posição nesta vasta área e que características adquiriu o Islão em África? Quais os países onde este processo tem sido mais problemático na actualidade?
A islamização de África tem sido um longo e complexo processo.
Em 640 d.c. registou-se a conquista do Norte de África, desde o Egipto até Marrocos. Ao contrário do resto do continente, no Norte de África desenrolaram-se dois processos distintos: islamização e arabização. Por islamização pretende-se referir o processo pelo qual os povos do Norte de África se converteram à religião islâmica e se tornaram muçulmanos. Por arabização refere-se o processo de aculturação através do qual estes povos absorveram numerosos aspectos da cultura árabe, nomeadamente a língua(1).
Ao mesmo tempo que decorria a conquista do Norte de África, o Islão atingiu a África Oriental, não através da conquista armada mas através do comércio no mar Vermelho e no oceano Índico.
Mais tarde regista-se uma expansão por vagas sucessivas do norte para o sul através do Sara, por via das migrações e do comércio de caravanas.
Esta expansão para sul foi variada na sua forma, tendo em conta a natureza da população muçulmana migrante e a sua atitude perante a religião. Cada grupo migrante tinha a sua forma de interagir com o povo acolhedor, o que teve efeitos nos métodos de islamização.
A adaptabilidade do Islão a diferentes ambientes e a sua interacção com a religião animista presente no continente africano vai permitir, por um lado, a sua fácil aceitação pelos africanos e, por outro, provocar mutações na religião islâmica de região para região. Como exemplo podem referir-se as celebrações islâmicas em partes da África Oriental, que incorporaram a dança e o tambor no seu seio. Estas duas características levam a que não se possa falar do Islão em África de uma forma global.

O fenómeno de expansão islâmica assume várias formas na actualidade: pode ser radical ou moderado, político ou apolítico, democrático ou autoritário, envolvendo desde esforços ao nível da educação nas escolas corânicas, a tentativas de chegada ao poder. Ao sul do continente africano, a grande mutação que se regista é a maior influência muçulmana dos países da península arábica. Estes países estão presentes em domínios tão variados como a formação de intelectuais, a construção de mesquitas e o financiamento de obras de caridade e fundações diversas.
O Islão no quadro da reorganização do mundo pós-Guerra Fria
Desde os atentados ocorridos a 11 de Setembro que a palavra Islão adquiriu outro significado para o mundo. Numerosos artigos nos EUA e na Europa, que até então ignoraram África, falam agora do facto de mais de 20% dos muçulmanos viverem na África sub-sariana, e de existirem mais muçulmanos em África do que no Médio Oriente.
Os conflitos religiosos no continente africano assumiram uma outra dimensão.
No entanto, é necessário ter em conta que o Islão em si não é a principal fonte destes conflitos. O problema em África é que os conflitos religiosos estão a mascarar problemas mais prementes como o controlo de riquezas, a fraqueza dos Estados e a falta de meios financeiros para desempenhar o seu papel na educação, saúde, etc., criando tensões que estão a ser definidas em termos islâmicos. Em países como a Nigéria, a Somália ou o Sudão onde os conflitos religiosos se encontram acesos, o Estado falhou no seu papel, e as instituições que conseguem manter algum funcionalismo são precisamente as religiosas (islâmicas e cristãs). São elas que mantêm a educação, apoios humanitários, assumindo mesmo, em alguns Estados, outras funções, como a construção de estradas.
É necessário ter em conta que o Islão em África é muitas vezes usado pelos líderes africanos como um instrumento político, uma forma de desviar as atenções dos conflitos locais, que nada tem a ver com o choque de civilizações, mas sim com a alocação de recursos e ainda que em muitas sociedades africanas o Islão convive pacificamente com as outras comunidades. É importante não confundir Islão com fundamentalismo islâmico.
Os políticos jogam a carta religiosa e étnica para conseguir apoios, dividir e conquistar.
O actual receio terrorista que assola o Ocidente, conjugado com a complexidade e diversidade de problemas que enfrenta o continente africano, representa um risco, pois pode ser usado pelos líderes africanos, não só para adiar reformas conducentes à liberalização política (tal como no passado, após o resultado eleitoral na Argélia), mas também para esmagar a oposição interna e externa, com a cumplicidade do Ocidente.
Durante o mandato de Clinton, o fundamentalismo islâmico foi uma das preocupações americanas no continente. A nova abordagem americana assentou numa nova geração de líderes independentes como Isaias Afwerki, da Eritreia, Meles Zenawi, da Etiópia, Yoweri Museveni, do Uganda e Paul Kagame, do Ruanda. Através destes países, os EUA procuraram deter a expansão do fundamentalismo islâmico, sobretudo do Sudão. Contudo, o renascimento africano proclamado por Clinton falhou. Não foi possível, num espaço de tempo limitado, resolver os problemas estruturais que África encerra.
Enquanto o continente africano continuar a ter Estados disfuncionais, desintegração social, rápido crescimento populacional, taxas de HIV elevadas, guerras, deslocados, fome, as tensões continuarão a existir. O fundamentalis-mo islâmico será apenas mais uma dessas tensões.
Informação complementar
Somália
A fraqueza do Estado central tem consequências também na Somália. Para 90% das crianças em idade escolar, os únicos estabelecimentos de ensino existentes são as escolas corânicas. Após uma longa e sangrenta guerra civil, as únicas instituições que funcionam são os tribunais, escolas e mesquitas islâmicas. São estas instituições que conseguem trazer alguma ordem a zonas anteriormente anárquicas. A lei da sharia está em vigor desde 1993.
Sudão
No Sudão, uma guerra civil sangrenta dura já há 18 anos entre o regime islâmico militar no Norte, e a oposição animista e cristã ao Sul. A descoberta de petróleo (ver mapa “Produção de petróleo no Sudão”) no Sul do Sudão em 1983 contribuiu para o reacender da guerra. Desde então, as diferenças religiosas e étnicas têm sido usadas como arma para controlar as áreas de produção. Cartum procura impor a Sharia a todo o país, ao contrário dos outros Estados africanos, onde apenas é imposta às comunidades muçulmanas.
Nigéria
O actual problema de tensões religiosas na Nigéria – com os esforços dos Estados do Norte para implementar a sharia(3) – tem fortes raízes históricas, étnicas, culturais, políticas e económicas. Em particular, é claro que o facto de a Nigéria ter falhado no uso dos vastos recursos petrolíferos (ver mapa intitulado “Principais áreas de conflito e número de IDP na Nigéria”), concentrados no Sul, para proporcionar melhores condições de vida e um sistema socioeconómico relativamente equitativo contribuiu para o exacerbar das divisões religiosas. Enquanto os problemas económicos e sociais continuarem na Nigéria, o risco de manipulação religiosa para fins políticos e o apelo à religião para encontrar respostas a problemas do mundo material continuarão.
__________
1. Semelhante processo decorre actualmente no Sudão.
2. Na Tanzânia, o presidente Mkapa tem sido acusado de usar como pretexto o fundamentalismo Islâmico do partido CUF para suprimir a oposição no país. No Uganda, os líderes da oposição estão receosos de que a lei recentemente aprovada de pena de morte para quem esteja envolvido ou apoie o terrorismo seja usada para neutralizar os opositores e críticos do regime. A Etiópia vê na actual antipatia por grupos terroristas no Corno de África uma forma de atrair o apoio dos EUA para exercer uma maior pressão sobre os seus inimigos baseados na Somália, especialmente a Al Itihaad.
3. Desde Janeiro de 2000, 12 Estados do Norte introduziram a Sharia.
* Carla Folgôa
Licenciada em Relações Internacionais pela UAL. Assessora da Direcção do Conselho Português para os Refugiados.
A religião islâmica assume grande importância não só no norte de África, mas em todo o continente africano. O encontro do Islão com o animismo africano resultou numa solução religiosa, que foi facilmente assimilada por parte da população, transformando-se numa forma alternativa de organização social.
Apesar de mais de 20% do total mundial de muçulmanos viverem na África subsariana, os conflitos vividos na região não se devem a causas religiosas, mas redicam na luta pelo controle de riquezas, na fraqueza dos Estados e na falta de meios financeiros para que estes desempenhem funções sociais.
A ideia de que mais de um terço da população africana partilha a fé islâmica não nos passa imediatamente pela cabeça quando se pensa em África.
Se nos habituámos a considerar os países do Norte de África como parte do mundo árabe, não reconhecemos tão facilmente a influência islâmica ao sul do Sara.
No entanto, o papel do Islão como força política, social e religiosa na África sub-sariana é também muito importante. Países como o Senegal, o Mali, a Somália têm maiorias muçulmanas. Metade dos 113 milhões de habitantes da Nigéria são muçulmanos. Países como o Gana, o Uganda, o Quénia e a Tanzânia têm grandes comunidades muçulmanas.
O Islão é uma religião fortemente implantada há séculos no continente e como tal tem desempenhado um papel preponderante na evolução de muitas nações africanas. Continua hoje a ser uma religião em expansão, apresentando-se como um sistema alternativo de organização social, política e económica para as comunidades islamizadas.
Como conseguiu o Islão alcançar tão importante posição nesta vasta área e que características adquiriu o Islão em África? Quais os países onde este processo tem sido mais problemático na actualidade?
A islamização de África tem sido um longo e complexo processo.
Em 640 d.c. registou-se a conquista do Norte de África, desde o Egipto até Marrocos. Ao contrário do resto do continente, no Norte de África desenrolaram-se dois processos distintos: islamização e arabização. Por islamização pretende-se referir o processo pelo qual os povos do Norte de África se converteram à religião islâmica e se tornaram muçulmanos. Por arabização refere-se o processo de aculturação através do qual estes povos absorveram numerosos aspectos da cultura árabe, nomeadamente a língua(1).
Ao mesmo tempo que decorria a conquista do Norte de África, o Islão atingiu a África Oriental, não através da conquista armada mas através do comércio no mar Vermelho e no oceano Índico.
Mais tarde regista-se uma expansão por vagas sucessivas do norte para o sul através do Sara, por via das migrações e do comércio de caravanas.
Esta expansão para sul foi variada na sua forma, tendo em conta a natureza da população muçulmana migrante e a sua atitude perante a religião. Cada grupo migrante tinha a sua forma de interagir com o povo acolhedor, o que teve efeitos nos métodos de islamização.
A adaptabilidade do Islão a diferentes ambientes e a sua interacção com a religião animista presente no continente africano vai permitir, por um lado, a sua fácil aceitação pelos africanos e, por outro, provocar mutações na religião islâmica de região para região. Como exemplo podem referir-se as celebrações islâmicas em partes da África Oriental, que incorporaram a dança e o tambor no seu seio. Estas duas características levam a que não se possa falar do Islão em África de uma forma global.

O fenómeno de expansão islâmica assume várias formas na actualidade: pode ser radical ou moderado, político ou apolítico, democrático ou autoritário, envolvendo desde esforços ao nível da educação nas escolas corânicas, a tentativas de chegada ao poder. Ao sul do continente africano, a grande mutação que se regista é a maior influência muçulmana dos países da península arábica. Estes países estão presentes em domínios tão variados como a formação de intelectuais, a construção de mesquitas e o financiamento de obras de caridade e fundações diversas.
O Islão no quadro da reorganização do mundo pós-Guerra Fria
Desde os atentados ocorridos a 11 de Setembro que a palavra Islão adquiriu outro significado para o mundo. Numerosos artigos nos EUA e na Europa, que até então ignoraram África, falam agora do facto de mais de 20% dos muçulmanos viverem na África sub-sariana, e de existirem mais muçulmanos em África do que no Médio Oriente.
Os conflitos religiosos no continente africano assumiram uma outra dimensão.
No entanto, é necessário ter em conta que o Islão em si não é a principal fonte destes conflitos. O problema em África é que os conflitos religiosos estão a mascarar problemas mais prementes como o controlo de riquezas, a fraqueza dos Estados e a falta de meios financeiros para desempenhar o seu papel na educação, saúde, etc., criando tensões que estão a ser definidas em termos islâmicos. Em países como a Nigéria, a Somália ou o Sudão onde os conflitos religiosos se encontram acesos, o Estado falhou no seu papel, e as instituições que conseguem manter algum funcionalismo são precisamente as religiosas (islâmicas e cristãs). São elas que mantêm a educação, apoios humanitários, assumindo mesmo, em alguns Estados, outras funções, como a construção de estradas.
É necessário ter em conta que o Islão em África é muitas vezes usado pelos líderes africanos como um instrumento político, uma forma de desviar as atenções dos conflitos locais, que nada tem a ver com o choque de civilizações, mas sim com a alocação de recursos e ainda que em muitas sociedades africanas o Islão convive pacificamente com as outras comunidades. É importante não confundir Islão com fundamentalismo islâmico.
Os políticos jogam a carta religiosa e étnica para conseguir apoios, dividir e conquistar.
O actual receio terrorista que assola o Ocidente, conjugado com a complexidade e diversidade de problemas que enfrenta o continente africano, representa um risco, pois pode ser usado pelos líderes africanos, não só para adiar reformas conducentes à liberalização política (tal como no passado, após o resultado eleitoral na Argélia), mas também para esmagar a oposição interna e externa, com a cumplicidade do Ocidente.
Durante o mandato de Clinton, o fundamentalismo islâmico foi uma das preocupações americanas no continente. A nova abordagem americana assentou numa nova geração de líderes independentes como Isaias Afwerki, da Eritreia, Meles Zenawi, da Etiópia, Yoweri Museveni, do Uganda e Paul Kagame, do Ruanda. Através destes países, os EUA procuraram deter a expansão do fundamentalismo islâmico, sobretudo do Sudão. Contudo, o renascimento africano proclamado por Clinton falhou. Não foi possível, num espaço de tempo limitado, resolver os problemas estruturais que África encerra.
Enquanto o continente africano continuar a ter Estados disfuncionais, desintegração social, rápido crescimento populacional, taxas de HIV elevadas, guerras, deslocados, fome, as tensões continuarão a existir. O fundamentalis-mo islâmico será apenas mais uma dessas tensões.
Informação complementar
Somália
A fraqueza do Estado central tem consequências também na Somália. Para 90% das crianças em idade escolar, os únicos estabelecimentos de ensino existentes são as escolas corânicas. Após uma longa e sangrenta guerra civil, as únicas instituições que funcionam são os tribunais, escolas e mesquitas islâmicas. São estas instituições que conseguem trazer alguma ordem a zonas anteriormente anárquicas. A lei da sharia está em vigor desde 1993.
Sudão
No Sudão, uma guerra civil sangrenta dura já há 18 anos entre o regime islâmico militar no Norte, e a oposição animista e cristã ao Sul. A descoberta de petróleo (ver mapa “Produção de petróleo no Sudão”) no Sul do Sudão em 1983 contribuiu para o reacender da guerra. Desde então, as diferenças religiosas e étnicas têm sido usadas como arma para controlar as áreas de produção. Cartum procura impor a Sharia a todo o país, ao contrário dos outros Estados africanos, onde apenas é imposta às comunidades muçulmanas.
Nigéria
O actual problema de tensões religiosas na Nigéria – com os esforços dos Estados do Norte para implementar a sharia(3) – tem fortes raízes históricas, étnicas, culturais, políticas e económicas. Em particular, é claro que o facto de a Nigéria ter falhado no uso dos vastos recursos petrolíferos (ver mapa intitulado “Principais áreas de conflito e número de IDP na Nigéria”), concentrados no Sul, para proporcionar melhores condições de vida e um sistema socioeconómico relativamente equitativo contribuiu para o exacerbar das divisões religiosas. Enquanto os problemas económicos e sociais continuarem na Nigéria, o risco de manipulação religiosa para fins políticos e o apelo à religião para encontrar respostas a problemas do mundo material continuarão.
__________
1. Semelhante processo decorre actualmente no Sudão.
2. Na Tanzânia, o presidente Mkapa tem sido acusado de usar como pretexto o fundamentalismo Islâmico do partido CUF para suprimir a oposição no país. No Uganda, os líderes da oposição estão receosos de que a lei recentemente aprovada de pena de morte para quem esteja envolvido ou apoie o terrorismo seja usada para neutralizar os opositores e críticos do regime. A Etiópia vê na actual antipatia por grupos terroristas no Corno de África uma forma de atrair o apoio dos EUA para exercer uma maior pressão sobre os seus inimigos baseados na Somália, especialmente a Al Itihaad.
3. Desde Janeiro de 2000, 12 Estados do Norte introduziram a Sharia.
* Carla Folgôa
Licenciada em Relações Internacionais pela UAL. Assessora da Direcção do Conselho Português para os Refugiados.
A religião islâmica assume grande importância não só no norte de África, mas em todo o continente africano. O encontro do Islão com o animismo africano resultou numa solução religiosa, que foi facilmente assimilada por parte da população, transformando-se numa forma alternativa de organização social.
Apesar de mais de 20% do total mundial de muçulmanos viverem na África subsariana, os conflitos vividos na região não se devem a causas religiosas, mas redicam na luta pelo controle de riquezas, na fraqueza dos Estados e na falta de meios financeiros para que estes desempenhem funções sociais.
A ideia de que mais de um terço da população africana partilha a fé islâmica não nos passa imediatamente pela cabeça quando se pensa em África.
Se nos habituámos a considerar os países do Norte de África como parte do mundo árabe, não reconhecemos tão facilmente a influência islâmica ao sul do Sara.
No entanto, o papel do Islão como força política, social e religiosa na África sub-sariana é também muito importante. Países como o Senegal, o Mali, a Somália têm maiorias muçulmanas. Metade dos 113 milhões de habitantes da Nigéria são muçulmanos. Países como o Gana, o Uganda, o Quénia e a Tanzânia têm grandes comunidades muçulmanas.
O Islão é uma religião fortemente implantada há séculos no continente e como tal tem desempenhado um papel preponderante na evolução de muitas nações africanas. Continua hoje a ser uma religião em expansão, apresentando-se como um sistema alternativo de organização social, política e económica para as comunidades islamizadas.
Como conseguiu o Islão alcançar tão importante posição nesta vasta área e que características adquiriu o Islão em África? Quais os países onde este processo tem sido mais problemático na actualidade?
A islamização de África tem sido um longo e complexo processo.
Em 640 d.c. registou-se a conquista do Norte de África, desde o Egipto até Marrocos. Ao contrário do resto do continente, no Norte de África desenrolaram-se dois processos distintos: islamização e arabização. Por islamização pretende-se referir o processo pelo qual os povos do Norte de África se converteram à religião islâmica e se tornaram muçulmanos. Por arabização refere-se o processo de aculturação através do qual estes povos absorveram numerosos aspectos da cultura árabe, nomeadamente a língua(1).
Ao mesmo tempo que decorria a conquista do Norte de África, o Islão atingiu a África Oriental, não através da conquista armada mas através do comércio no mar Vermelho e no oceano Índico.
Mais tarde regista-se uma expansão por vagas sucessivas do norte para o sul através do Sara, por via das migrações e do comércio de caravanas.
Esta expansão para sul foi variada na sua forma, tendo em conta a natureza da população muçulmana migrante e a sua atitude perante a religião. Cada grupo migrante tinha a sua forma de interagir com o povo acolhedor, o que teve efeitos nos métodos de islamização.
A adaptabilidade do Islão a diferentes ambientes e a sua interacção com a religião animista presente no continente africano vai permitir, por um lado, a sua fácil aceitação pelos africanos e, por outro, provocar mutações na religião islâmica de região para região. Como exemplo podem referir-se as celebrações islâmicas em partes da África Oriental, que incorporaram a dança e o tambor no seu seio. Estas duas características levam a que não se possa falar do Islão em África de uma forma global.

O fenómeno de expansão islâmica assume várias formas na actualidade: pode ser radical ou moderado, político ou apolítico, democrático ou autoritário, envolvendo desde esforços ao nível da educação nas escolas corânicas, a tentativas de chegada ao poder. Ao sul do continente africano, a grande mutação que se regista é a maior influência muçulmana dos países da península arábica. Estes países estão presentes em domínios tão variados como a formação de intelectuais, a construção de mesquitas e o financiamento de obras de caridade e fundações diversas.
O Islão no quadro da reorganização do mundo pós-Guerra Fria
Desde os atentados ocorridos a 11 de Setembro que a palavra Islão adquiriu outro significado para o mundo. Numerosos artigos nos EUA e na Europa, que até então ignoraram África, falam agora do facto de mais de 20% dos muçulmanos viverem na África sub-sariana, e de existirem mais muçulmanos em África do que no Médio Oriente.
Os conflitos religiosos no continente africano assumiram uma outra dimensão.
No entanto, é necessário ter em conta que o Islão em si não é a principal fonte destes conflitos. O problema em África é que os conflitos religiosos estão a mascarar problemas mais prementes como o controlo de riquezas, a fraqueza dos Estados e a falta de meios financeiros para desempenhar o seu papel na educação, saúde, etc., criando tensões que estão a ser definidas em termos islâmicos. Em países como a Nigéria, a Somália ou o Sudão onde os conflitos religiosos se encontram acesos, o Estado falhou no seu papel, e as instituições que conseguem manter algum funcionalismo são precisamente as religiosas (islâmicas e cristãs). São elas que mantêm a educação, apoios humanitários, assumindo mesmo, em alguns Estados, outras funções, como a construção de estradas.
É necessário ter em conta que o Islão em África é muitas vezes usado pelos líderes africanos como um instrumento político, uma forma de desviar as atenções dos conflitos locais, que nada tem a ver com o choque de civilizações, mas sim com a alocação de recursos e ainda que em muitas sociedades africanas o Islão convive pacificamente com as outras comunidades. É importante não confundir Islão com fundamentalismo islâmico.
Os políticos jogam a carta religiosa e étnica para conseguir apoios, dividir e conquistar.
O actual receio terrorista que assola o Ocidente, conjugado com a complexidade e diversidade de problemas que enfrenta o continente africano, representa um risco, pois pode ser usado pelos líderes africanos, não só para adiar reformas conducentes à liberalização política (tal como no passado, após o resultado eleitoral na Argélia), mas também para esmagar a oposição interna e externa, com a cumplicidade do Ocidente.
Durante o mandato de Clinton, o fundamentalismo islâmico foi uma das preocupações americanas no continente. A nova abordagem americana assentou numa nova geração de líderes independentes como Isaias Afwerki, da Eritreia, Meles Zenawi, da Etiópia, Yoweri Museveni, do Uganda e Paul Kagame, do Ruanda. Através destes países, os EUA procuraram deter a expansão do fundamentalismo islâmico, sobretudo do Sudão. Contudo, o renascimento africano proclamado por Clinton falhou. Não foi possível, num espaço de tempo limitado, resolver os problemas estruturais que África encerra.
Enquanto o continente africano continuar a ter Estados disfuncionais, desintegração social, rápido crescimento populacional, taxas de HIV elevadas, guerras, deslocados, fome, as tensões continuarão a existir. O fundamentalis-mo islâmico será apenas mais uma dessas tensões.
Informação complementar
Somália
A fraqueza do Estado central tem consequências também na Somália. Para 90% das crianças em idade escolar, os únicos estabelecimentos de ensino existentes são as escolas corânicas. Após uma longa e sangrenta guerra civil, as únicas instituições que funcionam são os tribunais, escolas e mesquitas islâmicas. São estas instituições que conseguem trazer alguma ordem a zonas anteriormente anárquicas. A lei da sharia está em vigor desde 1993.
Sudão
No Sudão, uma guerra civil sangrenta dura já há 18 anos entre o regime islâmico militar no Norte, e a oposição animista e cristã ao Sul. A descoberta de petróleo (ver mapa “Produção de petróleo no Sudão”) no Sul do Sudão em 1983 contribuiu para o reacender da guerra. Desde então, as diferenças religiosas e étnicas têm sido usadas como arma para controlar as áreas de produção. Cartum procura impor a Sharia a todo o país, ao contrário dos outros Estados africanos, onde apenas é imposta às comunidades muçulmanas.
Nigéria
O actual problema de tensões religiosas na Nigéria – com os esforços dos Estados do Norte para implementar a sharia(3) – tem fortes raízes históricas, étnicas, culturais, políticas e económicas. Em particular, é claro que o facto de a Nigéria ter falhado no uso dos vastos recursos petrolíferos (ver mapa intitulado “Principais áreas de conflito e número de IDP na Nigéria”), concentrados no Sul, para proporcionar melhores condições de vida e um sistema socioeconómico relativamente equitativo contribuiu para o exacerbar das divisões religiosas. Enquanto os problemas económicos e sociais continuarem na Nigéria, o risco de manipulação religiosa para fins políticos e o apelo à religião para encontrar respostas a problemas do mundo material continuarão.
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1. Semelhante processo decorre actualmente no Sudão.
2. Na Tanzânia, o presidente Mkapa tem sido acusado de usar como pretexto o fundamentalismo Islâmico do partido CUF para suprimir a oposição no país. No Uganda, os líderes da oposição estão receosos de que a lei recentemente aprovada de pena de morte para quem esteja envolvido ou apoie o terrorismo seja usada para neutralizar os opositores e críticos do regime. A Etiópia vê na actual antipatia por grupos terroristas no Corno de África uma forma de atrair o apoio dos EUA para exercer uma maior pressão sobre os seus inimigos baseados na Somália, especialmente a Al Itihaad.
3. Desde Janeiro de 2000, 12 Estados do Norte introduziram a Sharia.
* Carla Folgôa
Licenciada em Relações Internacionais pela UAL. Assessora da Direcção do Conselho Português para os Refugiados.

Pacto de Varsóvia

O Pacto de Varsóvia foi uma aliança militar formada em 28 de Maio de 1955 pelos países socialistas do Leste Europeu e pela União Soviética. O tratado correspondente foi firmado na capital da Polônia, Varsóvia, e estabeleceu o alinhamento dos países membros com Moscovo, estabelecendo um compromisso de ajuda mútua em caso de agressões militares.

O organismo militar foi instituído em contraponto à OTAN (Organização Tratado do Atlântico Norte), organização internacional que uniu as nações capitalistas da Europa Ocidental e os Estados Unidos para a prevenção e defesa dos países membros contra eventuais ataques vindos do Leste Europeu.

Os países que fizeram parte do Pacto de Varsóvia eram alguns nos quais foram instituídos governos socialistas pela URSS, após a Segunda Guerra Mundial. União Soviética, Alemanha Oriental, Bulgária, Hungria, Polônia, Checoslováquia e Romênia foram os países membros, sendo que a estrutura militar seguia as diretrizes soviéticas. A Iugoslávia, por oposição do Marechal Tito, se recusou a ingressar no bloco.

Porém, as principais ações do Pacto foram dentro dos países-membros para a repressão de revoltas internas. Em 1956, tropas reprimiram manifestações populares na Hungria e Polônia, e em 1968, na Tchecoslováquia, na chamada Primavera de Praga.

As mudanças no cenário geopolítico da Europa Oriental no final da década de 80, com a queda dos governos socialistas, o fim do Muro de Berlim, o fim da Guerra Fria e a crise na URSS levaram a extinção do Pacto em 31 de Março de 1991. O fim do Pacto de Varsóvia representou, também, o fim da Guerra Fria.

Seis anos depois, a OTAN convida a República Checa, Hungria e Polônia a ingressarem na organização, demonstrando uma nova configuração das forças militares na Europa pós-Guerra Fria

Segunda Guerra Mundial

Introdução : As causas da Segunda Guerra Mundial
Um conflito desta magnitude não começa sem importantes causas ou motivos. Podemos dizer que vários fatores influenciaram o início deste conflito que se iniciou na Europa e, rapidamente, espalhou-se pela África e Ásia.

Um dos mais importantes motivos foi o surgimento, na década de 1930, na Europa, de governos totalitários com fortes objetivos militaristas e expansionistas. Na Alemanha surgiu o nazismo, liderado por Hitler e que pretendia expandir o território Alemão, desrespeitando o Tratado de Versalhes, inclusive reconquistando territórios perdidos na Primeira Guerra. Na Itália estava crescendo o Partido Fascista, liderado por Benito Mussolini, que se tornou o Duce da Itália, com poderes sem limites.
Tanto a Itália quanto a Alemanha passavam por uma grave crise econômica no início da década de 1930, com milhões de cidadãos sem emprego. Uma das soluções tomadas pelos governos fascistas destes países foi a industrialização, principalmente na criação de
indústrias de armamentos e equipamentos bélicos (aviões de guerra, navios, tanques etc).
Na Ásia, o
Japão também possuía fortes desejos de expandir seus domínios para territórios vizinhos e ilhas da região. Estes três países, com objetivos expansionistas, uniram-se e formaram o Eixo. Um acordo com fortes características militares e com planos de conquistas elaborados em comum acordo.

O Início
O marco inicial ocorreu no ano de 1939, quando o exército alemão invadiu a Polônia. De imediato, a França e a Inglaterra declararam guerra à Alemanha. De acordo com a política de alianças militares existentes na época, formaram-se dois grupos : Aliados ( liderados por Inglaterra, URSS, França e Estados Unidos ) e Eixo ( Alemanha, Itália e Japão ).

Desenvolvimento e Fatos Históricos Importantes:

  • O período de 1939 a 1941 foi marcado por vitórias do Eixo, lideradas pelas forças armadas da Alemanha, que conquistou o Norte da França, Iugoslávia, Polônia, Ucrânia, Noruega e territórios no norte da África. O Japão anexou a Manchúria, enquanto a Itália conquistava a Albânia e territórios da Líbia.

  • Em 1941 o Japão ataca a base militar norte-americana de Pearl Harbor no Oceano Pacífico (Havaí). Após este fato, considerado uma traição pelos norte-americanos, os estados Unidos entraram no conflito ao lado das forças aliadas.

  • De 1941 a 1945 ocorreram as derrotas do Eixo, iniciadas com as perdas sofridas pelos alemães no rigoroso inverno russo. Neste período, ocorre uma regressão das forças do Eixo que sofrem derrotas seguidas. Com a entrada dos EUA, os aliados ganharam força nas frentes de batalhas.

  • O Brasil participa diretamente, enviando para a Itália ( região de Monte Cassino ) os pracinhas da FEB, Força Expedicionária Brasileira. Os cerca de 25 mil soldados brasileiros conquistam a região, somando uma importante vitória ao lado dos Aliados.

Final e Conseqüências
Este importante e triste conflito terminou somente no ano de 1945 com a rendição da Alemanha e Itália. O Japão, último país a assinar o tratado de rendição, ainda sofreu um forte ataque dos Estados Unidos, que despejou bombas atômicas sobre as cidades de Hiroshima e Nagazaki. Uma ação desnecessária que provocou a morte de milhares de cidadãos japoneses inocentes, deixando um rastro de destruição nestas cidades.

bomba atômica
Bomba Atômica explode na cidade japonesa de Hiroshima

Os prejuízos foram enormes, principalmente para os países derrotados. Foram milhões de mortos e feridos, cidades destruídas, indústrias e zonas rurais arrasadas e dívidas incalculáveis. O racismo esteve presente e deixou uma ferida grave, principalmente na Alemanha, onde os nazistas mandaram para campos de concentração e mataram aproximadamente seis milhões de judeus.
Com o final do conflito, em 1945, foi criada a ONU ( Organização das Nações Unidas ), cujo objetivo principal seria a manutenção da paz entre as nações. Inicia-se também um período conhecido como Guerra Fria, colocando agora, em lados opostos, Estados Unidos e União Soviética. Uma disputa geopolítica entre o capitalismo norte-americano e o socialismo soviético, onde ambos países buscavam ampliar suas áreas de influência sem entrar em conflitos armados.